Vai-Vai
Livro aborda ligação religiosa do Vai-Vai com expressões do candomblé
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Orixás no terreiro sagrado do samba – Exu e Ogum no Candomblé da Vai-Vai é de autoria da jornalista Cláudia Alexandre


Religiões afro-brasileiras e escolas de samba dialogam entre si desde sempre. Para fazer sua dissertação de mestrado em Ciência da Religião (PUC-SP/2017), a jornalista e pesquisadora Cláudia Alexandre mergulhou na relação da escola de samba Vai-Vai com os orixás Exu e Ogum, que resultou no livro “Orixás no terreiro sagrado do samba – Exu e Ogum no Candomblé da Vai-Vai”, lançado neste mês, pela editora Aruanda.

“O que eu encontrei na escola de samba Vai-Vai foi uma tradição que revive a matriz africana e surpreende porque está ali na encruzilhada de Exu, não apenas dando sentido identitário à comunidade, mas político e de resistência também. Os símbolos do Candomblé, envolvidos na rotina da festa, o calendário religioso, embalados pelos sambas formam um verdadeiro terreiro sagrado do samba em plena São Paulo”, conta Claudia Alexandre.

A obra

O livro é dividido em três capítulos: O primeiro, Batuques e performances do corpo negro: onde resistiu sagrado e profano, explora alguns acervos da cultura afro-brasileira para descrever como práticas rituais dos negros escravizados romperam perseguições e opressões e se mantém em manifestações da cultura popular. Mostra como samba, a roda de samba e as escolas de samba ganharam as ruas e se espalharam em expressões culturais populares. Focaliza a cidade de São Paulo, incluindo um breve histórico sobre práticas rituais de Macumba, Umbanda e de Candomblé na capital paulista.

No segundo capítulo, Vai-Vai: um território negro, aborda a formação do Bexiga, bairro da região central de São Paulo, onde está localizada a quadra de ensaios, ou o terreiro de samba, do Grêmio Recreativo Escola de Samba Vai-Vai. Investiga como a origem da agremiação carnavalesca se insere no contexto sócio-político-cultural da cidade; aborda o valor da ritualidade indispensável para as práticas das tradições de matrizes africanas, que também estão presentes nas escolas de samba.

 O terceiro e último capítulo, Exu e Ogum no terreiro do samba, volta-se para as práticas de Candomblé realizadas na escola, mostrando como o terreiro de samba é concebido pela comunidade como “terreiro sagrado”, onde práticas de devoção aos orixás patronos.

O pósfácio reverencia as matriarcas da tradição do culto à Exu na Vai-Vai, Mãe Nenê e Dona Marcinha, dando centralidade a fi gura da mulher nas tradições de matrizes africanas e também na constituição histórica das escolas de samba, remetendo a Hilária Batista de Almeida, Tia Ciata de Oxum (1854-1924), mulher negra, nascida em Santo Amaro da Purifi cação (Bahia), que se tornou um símbolo da formação das primeiras redes de solidariedade no Rio de Janeiro (século XIX), possibilitando a proteção para o surgimento do samba e, posteriormente, das escolas de samba. 

“Acho importante destacar que encontrei uma religiosidade na escola de samba Vai-Vai para além do resultado estético do espetáculo apresentado nos desfiles carnavalescos, algo que não se vê na tela da televisão. O olhar fragmentado, reproduzido pelos meios de comunicação será incapaz de revelar o que sustenta a devoção daqueles sambistas no momento máximo da festa. Com certeza, ali a paixão transcende o componente e a escola de samba na passarela parece se transformar em um templo religioso”, conta a autora.

“Orixás no terreiro sagrado do samba – Exu e Ogum no Candomblé da Vai-Vai” tem apresentação de Thobias da Vai-Vai, prefácio de Dr. Vagner Gonçalves da Silva (FFLCH-USP) e está à venda nas principais livrarias.